Silent Hill Origins PS2






Silent Hill: Origins encerra todas as características que qualquer fã de longa data reconheceria imediatamente e até esperaria ver. Novamente estão presentes os diálogos misteriosos, a atmosfera carregada, sangue em abundância e uma cidade totalmente envolta em uma inarredável névoa. Tudo isso de fato está presente e relativamente bem representado, porém, para quem gostaria de ver novos elementos e um estilo de terror um pouco... evoluído, pode mesmo acabar sentindo que “faltou algo”.

Apesar disso, o jogo traz sim uma boa quantidade de locais familiares e peças que estavam faltando na trama que começa com o primeiro jogo (tal qual um Resident Evil 0), algo que provavelmente vai agradar em cheio os fãs.

Um protagonista apenas... comum

O caminhoneiro Travis parece ter caído de para-quedas em Silent Hill. Em Origins o jogador é colocado na temível Silent Hill sob a pele do caminhoneiro Travis Grady, que, ocasionalmente, dirigia sob forte chuva pelas cercanias da cidade quando é surpreendido pela visão de uma menina no meio da estrada (quem tem algumas intimidade com a série já deve imaginar quem seja). Quando o caminhoneiro finalmente consegue parar o caminhão — não sem uma boa cena cinematográfica graças a uma chuva torrencial —, a menina acaba saindo correndo rumo à escuridão. Nesse ponto fica bem clara uma certa “forçada de barra” por parte da trama, já que Travis, inexplicavelmente, abandona o caminhão no meio da estrada e sai perseguindo a misteriosa menina rumo ao lugar que já se pode imaginar.

Não que realmente exista algo de errado com Travis, o problema é que ele realmente não tinha necessidade alguma de estar em Silent Hill! Ao contrário dos protagonistas anteriores que tinham suas histórias de vida muito bem amarradas aos acontecimentos na cidade. De maneira geral, a impressão que fica é que Travis realmente não chega a fazer parte da realidade de Silent Hill.

A atmosfera pesada

Tudo bem, Silent Hill é uma franquia já com oito anos e merecia uma certa remodelada em alguns pontos. Entretanto, é inegável que a capacidade de imersão da atmosfera da série nunca deixou nada a desejar. A forma como os assuntos são abordados de forma indireta nos parcos diálogos, a forma insólita como alguns monstros aparecem — o que nem sempre causa sustos, mas infunde uma espécie de incomodo inexplicável — ou mesmo toda a névoa que envolve a cidade; a atmosfera em Silent Hill é, inegavelmente, uma marca registrada e também a prova de que não são necessárias dúzias de inimigos para causar uma boa dose de calafrios.

Conforme já dito, em Origins esses elementos encontram-se muito bem representados. Desde o começo do jogo, quando Travis sai buscando informações sobre a menina misteriosa, os fatos ficam sempre envoltos em uma penumbra e alguns personagens bastante enigmáticos cruzam o caminho. Algumas... criaturas que aparecem pelo caminho também causam frios na espinha, seja pela aparência ou pelos movimentos (como uma enfermeira que, quando derrubada, bate a própria cabeça no chão convulsivamente).

Encaixando-se perfeitamente com o clima tenso e sombrio está a boa trilha sonora de Origins. Variando desde suspiros e barulhos estranhos até músicas, o que se têm é um reforço muito bem vindo à trama do jogo.

O último lugar onde alguém gostaria de estar

As boas texturas e o trabalho bem decente no desenho da cidade apenas colaboram com o clima pesado de Origins. Por toda parte, têm-se mesmo a impressão de se estar em uma cidade fantasma onde, certamente, alguma coisa muito ruim deve ter acontecido; tanto os objetos quanto os edifícios transmitem constantemente a idéia de algo abandonado ao sabor do tempo (coisa velha mesmo). Além disso, os montes de sangue encontrados tanto na forma de manchas nas paredes e no chão como saindo diretamente de uma das estranhas criaturas do jogo ajudam muito a manter a tensão.

Sim, alguns ambientes clássicos da série ainda conseguem provocar arrepios. De fato, são bem poucos os momentos em que há quebras de gráficos que fazem lembrar que se está em um jogo. Trata-se, a bem da verdade, de um bom aproveitamento do potencial gráfico do PSP — mesmo não sendo nada extremo, traz uma quantidade bem razoável de detalhes.

De maneira geral, Origins traz algumas criaturas bem de acordo com a trama. Embora algumas sejam mais estranhas do que propriamente assustadoras, outras conseguem realmente passar uma impressão bem forte. Isso fica ainda mais evidente nos chefes, que notadamente foram bem bolados e podem mesmo causar um pouco de incomodo mesmo nos jogadores menos impressionáveis.

O personagem ainda parece sofrer de “rigor mortis”

Assim como sempre aconteceu na série (algumas vezes mais, outras menos), em Origins o protagonista ainda parece um ser vivo apresentando “rigor mortis” (rigidez cadavérica). Travis apresenta o mesmo andar penoso e os movimentos lentos de todos os seus antecessores (ou sucessores, dependendo de como se encare), algo que se reflete, é claro, diretamente nos momentos de luta.

É claro que Silent Hill nunca foi conhecido por ter um sistema primoroso a ágil de luta, já que os criadores sempre primaram mais pela atmosfera e pelos enigmas — o que, sem dúvida, é algo bom. Em Origins a fórmula apenas se repete. Durante o ataque a alguns inimigos, a impressão que se têm é de que Travis jamais será capaz de desferir um ataque a tempo... mas ele consegue, desde que se comece a executar o golpe um tom tempo antes de o inimigo estar cara-a-cara.

Uma atmosfera envolvente pra valer as batalhas de dar sono. È claro que, na maioria das vezes, o negócio é mesmo evitar sair encarando todo tipo de criatura estranha que apareça pela frente, porém, quando não há saída, o negócio é tentar mesmo o lento soco do herói ou mesmo arremessar coisas como um radio ou uma televisão pra cima do inconveniente ser. O que faz lembrar pequena — e não necessariamente agradável — novidade: em Origins, a maioria dos itens pode ser utilizada apenas um número limitado de vezes, em seguida ele se quebra. Além disso, em alguns momentos durante uma luta, Travis pode entrar numa espécie de disputa de força com a criatura, o que é colocado na forma de um tipo de mini-game em que se deve pressionar repetidamente algum botão (algo que realmente já foi visto em outros lugares).

È claro que as cenas de luta, como sempre, representam uma parte menor da ação. Assim como acontecia nos jogos anteriores, Origins vem com uma boa carga de enigmas bem bolados para se resolver; enigmas que, muitas vezes, implicam na resolução de outros enigmas. Ao contrário do simplório estilos “ache-a-chave-que-abre-a-porta”, em Origins o negócio é manter um caderninho à mão para anotar várias informações que podem ser úteis em momentos futuros.





É bem verdade que Silent Hill é uma série consagrada, que pouquíssimas vezes pecou pela falta ou mesmo pelo excesso de originalidade (reinventar a roda nem sempre gera algo interessante). De fato, muitos foram os elementos iniciados na série, principalmente no que diz respeito à trama, já que o jogo sempre priorizou muito mais a atmosfera pesada e a trama envolvente (pelo menos na maior parte do tempo) do que alguns momentos de puro e simples susto; o terror sempre foi muito mais psicológico. Esses elementos aliados à presença de protagonistas interessantes e dinâmicos sempre deram aquele “je ne se qua” de originalidade que sobrepujava até mesmo a fraca mecânica das cenas de ação.

Só que, não obstante todas essas memoráveis características, trata-se de uma franquia já com oito anos nas costas. Realmente não faria nada mal dar uma reelaborada — mesmo que não muito profunda — em alguns pontos. Assim sendo, pode-se considerar que Origins seja aquele jogo que absolutamente não pode faltar na coleção de qualquer fã de carteirinha, já que completa várias lacunas na história da série e também pelo simples fato de ser uma história nova. Porém, aquele jogador ocasional em busca de algo com um fôlego restaurado pode acabar com a sensação de que tem nas mãos um jogo francamente um tanto idoso que provavelmente carece de vário reajustes. De qualquer forma, é diversão tipicamente Silent Hill.

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